quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Cria da Globalização, Cyber-Fan é o Torcedor sem Fronteira


Cresce a torcida à distância por clubes e atletas de qualquer lugar do Brasil ou do mundo

Em tempos de globalização, o amor por um clube de futebol ou um(a) desportista pode superar limites geográficos. Navegando na Internet, os torcedores virtuais acompanham campeonatos de várias modalidades esportivas ou a trajetória de clubes e atletas de qualquer lugar do Brasil e do mundo.

O tempo da monocultura do futebol restrito aos clubes do estado do torcedor, definitivamente ficou para trás. Hoje, com a velocidade de informação além-fronteiras, novos torcedores ou meros admiradores ampliaram o ato de torcer: uma torcida sem limite geográfico ou temporal.

Competições esportivas de qualquer tempo e lugar podem ser resgatadas em filmes baixados na grande rede, por exemplo, e ela, a Internet, pode se transformar em um lugar onde estes torcedores sem fronteiras, que fogem da tradição regionalista, se encontrem.

Foi o que aconteceu com Rodrigo Marques (foto): um carioca de 27 anos, que escolheu torcer de forma fanática pelo São Paulo Futebol Clube. Cansado de assistir as partidas do Tricolor paulista sozinho, Rodrigo resolveu arregimentar outros torcedores que amassem o time do Morumbi em plagas cariocas.

Resultado: em 2007, depois de ser bem sucedido na sua empreitada, Rodrigo recebeu, com pompa e circunstância em solo carioca, o título de "Embaixador do São Paulo no Rio de Janeiro" das mãos do ex-presidente - que dirigiu o clube em dois mandatos de 2002 a 2006 - Marcelo Portugal Gouvêa. Na época, o dirigente era vice de planejamento da gestão Juvenal Juvêncio.

Rodrigo, que tem doutorado em Sociologia, faz um paralelo entre a forma como ele e o seu pai torciam e acompanhavam os seus times.

- No tempo do meu pai, que é torcedor do Flamengo, ele só podia acompanhar o time pelo noticiário do jornal ou pelo rádio. Hoje, eu entro no GLOBOESPORTE.COM e sei de tudo o que rola no São Paulo, com textos, fotos e vídeos, e posso assistir aos jogos pelo pay-per-view com os meus amigos - explica.

Diploma e passaporte

Para poder torcer com companhia, Rodrigo usou a mesma Internet, que lhe aproximou do Tricolor. Ele criou comunidades em sites de relacionamentos, disparou e-mails para os amigos antigos e os recém-conquistados e, depois de muito trabalho, reuniu um grupo, que ele diz não ser uma torcida organizada, para assistir aos jogos em um bar no bairro de Copacabana - na Zona Sul do Rio de Janeiro.

Em 2006, com quase três mil pessoas cadastradas e com um site no ar, Rodrigo apresentou à diretoria do São Paulo a proposta de representar o clube no Rio.

- O clube levou um ano avaliando a minha solicitação e depois, para a minha surpresa, recebi um diploma, um passaporte e me disseram que o ex-presidente do clube viria ao Rio me diplomar e conhecer os outros torcedores - relata.

O grupo reúne cariocas de todas as partes do estado e pessoas de outras regiões do Brasil, que estão no Rio e torcem pelo São Paulo, como o casal João Paulo e Fernanda Alves.

Ele, paranaense que está estudando no Rio, e ela, carioca e apaixonada pelo Tricolor do Morumbi, se conheceram nas reuniões em dias de jogos e estão namorando há um ano.

Paixão por tenista russa

Também fã de futebol, Gustavo Priolli tem 19 anos, estuda Administração, adora tênis e é um torcedor apaixonado pela tenista russa Elena Dementieva. Esta paixão começou, quando ele tinha 14 anos. Gustavo joga tênis no Clube Payssandu no Rio de Janeiro.

O seu fanatismo pela tenista russa era tão conhecido, que ele acabou ganhando, de um professor do clube, um quadro com a foto da jogadora, que decorava uma sala de troféus.

- No meu notebook, tenho uma pasta com fotos da Dementieva e muitos filmes de jogos dela baixados na Internet. Eu a acompanho em torneios pela televisão ou pagando para assisti-la pela Internet em certas competições. Na pior das hipóteses, quando ela está jogando, consulto um site internacional só com resultados em tempo real - conta o jovem fã.

Fanatismo por time de Portugal

Joaquim Gomes Macedo é dono do Bar Simpatia, que fica no bairro carioca do Leblon. Português e fanático pelo Benfica, ele é assinante de uma TV a cabo, que permanece ligada dia e noite em canais esportivos no seu bar. Quando chega em casa, Joaquim navega pela Internet atrás de notícias do seu clube ou de jogos antigos.

- É fantástico poder rever na Internet o genial Eusébio em jogos inesquecíveis e históricos. Este ano, o Benfica é um forte candidato ao título. O Leixões começou bem, mas eu sabia que era um "cavalo paraguaio" - diverte-se.

Joaquim lembra que os portugueses mais velhos, que moravam no Brasil, só podiam se informar sobre o Campeonato Português através de um programa de rádio, que ia ao ar aos domingos e dava uma geral na competição.

Tempos distantes dos quais Adriane Gradel nem imagina como foram. Ela é torcedora do Liverpool da Inglaterra e já teve um Blog, onde comentava e marcava reuniões em dias de jogos, que eram assistidos no apartamento do seu namorado ou em um Pub na Zona Sul do Rio.

- Comecei a assistir aos jogos meio que por acaso. Gostei das partidas com poucas faltas do Campeonato Inglês e me apaixonei pelos Reds em 2003. Aí, com aquela campanha inesquecível da Liga dos Campeões do ano seguinte, nunca mais me separei do Liverpool - revela Adriane.

Desencaixe e reencaixe

Separação do tempo do espaço: Rodrigo Marques cita a teoria do "desencaixe" e "reencaixe" do sociólogo britânico Anthony Giddens na obra "As Consequências da Modernidade" de 1998.

- Quando assistimos a um jogo do São Paulo no Morumbi, estamos a muitos quilômetros de distância do local do jogo e ficamos cantando, como se estivéssemos lá. Isso é o "desencaixe". O tempo e o espaço estão desvinculados ali. Vivemos aquela experiência no mesmo tempo, porque o jogo é ao vivo, mas não no mesmo espaço. Vivemos aquilo, estando ausentes - explica Rodrigo, que ainda acrescenta:

- No "reencaixe" temos meios que permitem vivenciar uma realidade em uma nova estrutura de relação entre tempo e espaço. O rádio já proporcionava isto; mas, hoje, os novos meios são mais poderosos e permitem, que experimentemos mais coisas com capacidade sensorial muito mais ampla - compara.

Quando um cyber-fan acompanha um clube-além-fronteira e não apenas uma transmissão esportiva, ele recebe informações de outras culturas e não apenas o relato factual de uma partida. Rodrigo enfatiza a questão da liberdade e tradição.

- Há também um sentido de liberdade de escolha implícito aí. Podendo se inserir em novos pontos no espaço-tempo, via meios de comunicação, você tem mais opções e pode ampliar a sua gama de possibilidades de construção identitária: é como se a sociedade se movesse para além de suas tradições. Um mundo sem acesso às novas informações, tende a se repetir ciclicamente. Este novo mundo é um tanto diverso. Tende a destradicionalizar-se - conclui.



[matéria produzida por mim, em fevereiro de 2009, para o site GLOBOESPORTE.COM]

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

O Mundo Louco de Arthur e Vincent


Protelei, protelei e quase pensei em cancelar este post por puro ciúme.

Saca aquelas bandas (ou artistas solo) que você gosta tanto, que chega a ter um certo ciúme delas? Eu sei, eu sei... ...é ridículo...

"The Crazy World af Arthur Brown" é o nome da banda e do ótimo álbum de estreia (da banda) do despirocado e inacreditável vocalista e músico inglês Arthur Brown (foto).


Bem, a safra não poderia ser melhor: 1968. PQP !!! Se você pensar no que foi produzido e gravado em 1968... [...e se pensar que o punk 77 rachou tudo ao meio menos de dez anos depois...]

Arthur Brown era um malucão que fazia música e performances fantásticas, psicodélicas e à frente do seu tempo.

No que deve ser um dos registros desta música, o vídeo de "Nightmare", faixa do citado álbum de 68, é insano !!!

Pode ser que eu mude de ideia na próxima semana ou daqui a cinco anos, mas esta apresentação é o melhor clipe (clipe?) que eu já vi na vida. A performance da banda é absurda. A locação é um sóbrio escritório (terá sido um programa de TV?). E o que são as pessoas que assistem e dançam ??? Sensacional !!!

Tudo o que as bandas de hoje querem reproduzir e...

...não conseguem.

E detalhe: hoje, este típo de estética vende. No tempo dele, assustava. E o cara estava muito bem acompanhado: o inglês Vincent Crane era um maníaco (e depressivo também) ao teclado !!!

O fantástico e transtornado tecladista bipolar tocou com o baterista Carl Palmer na banda de Arthur Brown e depois levou o batera para a sua Atomic Rooster.

Ray Manzarek parece um tecladista de churrascaria perto de Vincent Crane.


OBS: sim, Carl Palmer é o mesmo que depois ficaria famoso na virtuose e meio "maleta" Emerson, Lake & Palmer.

Ainda na ativa, Arthur Brown está com quase 70 anos e é cultuado por diversos artistas, que o convidam para apresentações e gravações.


Vincent Crane deve estar tocando o seu teclado, com Frank Zappa, no andar de cima.

E no de baixo também.


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segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Uma Tarde com Celso Pitta em Ipanema

Não me lembro se foi em 2004 ou 2005. Fui almoçar no meio de uma tarde de sábado. Na verdade, pode ter sido em um domingo. Foi no restaurante Via Farme, na Farme de Amoedo em Ipanema, aqui no Rio de Janeiro.
 
Especializado em massas, este restaurante nem existe mais. Uma pena: boa comida a um bom preço. Para a minha surpresa, o ex-prefeito de São Paulo, Celso Pitta (na foto, com a Polícia Federal) estava sentado em uma mesa próxima a minha.
 
Não esperava encontrar a abonada figura em um restaurante frequentado por mim. Só o notei, depois de ter feito o pedido. Fiquei desconcertado.
 
Como o ilibado homem público - indiciado pelos crimes de evasão de divisas, operar instituição financeira sem autorização, falsidade ideológica, fraude na Administração de Sociedade Anônima e formação de quadrilha; além de ter sido réu em treze processos, acusado de superfaturar obras e desviar verbas públicas - podia estar ali perto de mim, cercado por vários outros cariocas e não ser importunado ???
 
O que ele fez com o dinheiro público ??? O que ele fez com o dinheiro do nosso imposto ??? Será que ele iria pagar as contas de todo mundo que estava no restaurante ???


Por não acreditar nesta hipótese, comecei a falar alto: fiz uma cena. A minha comensal e namorada na época, que era repórter da Rede TV, ficou nervosa. Eu continuei o meu protesto solitário.
 
O gerente veio a minha mesa saber se estava tudo bem. Disse a ele que não, e lhe pedi uma mesa no segundo andar. Ele me disse que o segundo andar estava fechado e eu ameacei deixar o estabelecimento.


Muito solícito, o gerente se prontificou a abrir o segundo andar. Não só fez isso, como ligou o ar condicionado e mandou outro garçom nos atender, exclusivamente, no andar de cima.
 
Satisfeito com o meu ato cívico, almocei um delicioso Fettuccini aos Quatro Queijos (um dos meus dois pratos preferidos).


Depois, de sobremesa, pensei no fato de nós cariocas sermos receptivos ao extremo com todo mundo. O publicitário paulista Washington Olivetto, assim que se mudou para o Rio, disse que "No Rio, basta tomar um banho de mar, para se tornar carioca".
 
O carioca tem a fama de ser o povo mais hospitaleiro do mundo (se eu não me engano, acho que uma ONU-da-vida chegou a nos dar este título); mas, também não deveríamos exagerar e deixar que um indivíduo com uma folha corrida como essa fique à vontade por aqui.
 
Na época, saiu na imprensa que o ex-prefeito vinha ao Rio regularmente, para se encontrar com uma loura moradora do Leme. De fato, uma loura o acompanhava à mesa naquela tarde do meu ato cívico.
 
Lembrei-me de tudo isso ao ler no último sábado sobre a morte de Celso Pitta. Agora, ele não poderá fazer mais nada com o dinheiro público. Mas, certamente, alguém se beneficiará da sua "obra" em vida. A herança da ilibada figura deverá beneficiar seus dois filhos e a sua mulher.
 
Com sorte, eu terei um dinheiro para comer um Fettuccini aos Quatro Queijos no próximo fim de semana.




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sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Meu Encontro com Eric e Chanel



Ontem, véspera de feriado, assisti ao filme "À procura de Eric" do diretor inglês Ken Loach.

Apesar de torcer pelo LIVERPOOL e o filme abordar torcedores e um craque do Manchester United, uma história envolvendo futebol inglês, pub, torcida e Eric Cantona (foto) me despertou interesse.

O famoso Bonequinho de O Globo aplaudindo de pé - além da própria crítica que justificou esta cotação - me deixou ainda mais animado.

No entanto, saí do Estação Ipanema decepcionado. O filme promete futebol, Eric Cantona, comédia, drama, romance e um pouco de ação no final, mas não cumpre nada disso.

Ken Loach gosta da classe operária? Legal ! O filme retrata pessoas comuns com aparência comum nada a ver com os/as Brangelinas das telas? Ótimo!

Agora, o foda é que o filme não é engraçado, o drama é banal (e até este fato poderia dar uma boa história), o romance é patético (também poderia ser bom por isso), a ação é uma caricatura, não tem futebol (nenhuma cena com os torcedores assistindo a um jogo em um pub ou em Old Trafford - estádio do Manchester United -, por exemplo) e o Cantona apareceria jogando por mais tempo, pelo YouTube, na tela do meu notebook.

OBS: fãs dos Red Devils aparecem em um pub conversando e esperando o início de um jogo pela UEFA Champions League; mas, quando a partida começa, a cena termina em alguns segundos.

O problema de "À procura de Eric" é não ter uma história interessante.


Não há história a ser contada. Entretanto, o título é bom ("Looking for Eric" - o protagonista, que se auto-analisa, é homônimo do craque francês), o bad boy casca grossa Cantona filosofando e psicanalisando é uma ótima piada e a cena final da "Operação Cantona" é a única coisa que vale o filme (o YouTube também resolveria neste caso).

Em determinados momentos, fiquei escorregadão na poltrona; em outros, torcendo para que o filme acabasse logo (para sair do cinema).


Acho que não revelaram a verdadeira intenção do Bonequinho.

Ou então ele torce pelos Diabos Vermelhos.

CANTONA X CHANEL - FILME DE HOMEM X FILME DE "MULEZINHA"


No fim de semana passado, tentei assistir a este filme do Ken Loach lá na Gávea, mas a lotação esgotada me jogou na sala onde foi exibido "Coco antes de Chanel".


Pensei: "porra (!), eu querendo ver futebol inglês, torcida e clima de pub e vou assistir a um filme de uma costureira, ops, estilista de bacana ??? Que merda !!!".

Quebrei a cara !!! O filme da diretora Anne Fontaine é excelente !!! [e eu fui apresentado à Chanel].

O fato é que na edição deste mês da Rolling Stone (Brasil), o crítico Edu Fernandes escreveu: "O objetivo desta cinebiografia é atingir o público feminino, por causa do pioneirismo de Chanel, e pessoas envolvidas no meio fashion, pela importância histórica" (sic). [ele não diz de quem ou qual importância].


É curioso como os críticos (os "fazedores" de opinião) superestimam os "filmes de homem" e rebaixam os "filmes de mulher". Qualquer merda testosteronada com ação, porrada e esportes é bem recebida e, quase sempre, as comédias românticas são classificadas como ruins.

Existem excelentes filmes com ação, porrada e esportes, e péssimos filmes deste gênero. Assim como no caso das comédias românticas e afins. Filme bom é filme bom, e filme ruim é filme ruim. Em qualquer gênero.

"Coco antes de Chanel" é um ótimo filme para todas as pessoas que se interessem por cinema ou pela história fascinante (e muito bem contada) de uma revolucionária.

Filme videogame é filme videogame.

E videogame é melhor no PlayStation.



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