quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Liverpool, Locutor da ESPN e Marcação


Hoje, o visitante Liverpool venceu o Unirea da Romênia por 3 a 1 e se classificou para as oitavas de final da Liga Europa. Na primeira perna, jogando em casa, os Reds venceram por 1 a 0 e é sobre este jogo que eu quero comentar.

Esta partida foi disputada na quinta-feira passada (dia 18) e o time do capitão Steven Gerrard (foto) penou para derrotar a equipe romena. O gol só saiu aos 81 minutos. Babel cruzou da esquerda, o espanhol Pacheco escorou de cabeça e N'Gog fuzilou, também de cabeça, para o fundo das redes.

Durante a partida, o ótimo narrador Paulo Andrade (boa voz, vibração, narração em cima dos lances), da ESPN, só falou mal do time do Liverpool e do jogo.

O loucutor e lenda viva José Carlos Araújo da Rádio Globo-AM (RJ) costumava dizer, que "narrador esportivo tem que ser um animador de espetáculo".

O cara não pode ficar o tempo todo depondo contra o evento narrado por ele. Por pior que seja o evento. Caso contrário, ele me autoriza a mudar o canal ou a desligar a televisão.

E o que se viu na tal partida, caro internauta? Um típico jogo de ataque contra defesa. Jogando em casa, o time da terra do Echo and The Bunnymen buscou o gol o tempo todo e o Unirea se defendeu. Mas se defendeu com muita, muita eficiência.

Renunciando ao ataque, sem cometer faltas, marcando na bola, os jogadores do time romeno demonstraram calma durante toda a partida. Um time sereno, ninguém gritando com ninguém. Uma postura zen quase budista.

Todos marcando todos os adversários, cobrindo os espaços, deixando mais de um marcador na sobra, diminuindo o campo.

Defensores, meias, e atacantes se propuseram a não deixar o adversário jogar e fizeram isso sem deslealdade e, como já disse, com eficiência total. [ok, oquei, até os 81 minutos]

Pronto, basta isso para o brasileiro não gostar. E tome de críticas, por parte do tal locutor da ESPN, ao time do Liverpool e à partida. "O time não tem criatividade; o time parece desinteressado; o time é fraco; o jogo é ruim; bom jogo será o do próximo sábado, blá, blá, blá". E olha que o cara nem é comentarista: está ali para narrar o jogo.

Quando o torcedor está vendo um jogo do seu time, pouco importa o nível técnico da partida. Ele quer a vitória do seu clube e ponto. Depois de 81 minutos torcendo por um gol, quando ele sai o torcedor vibra, comemora e espera ansiosamente pelo apito final do árbitro.

Não havia espaço para o time do Liverpool, mas os seus jogadores até que distribuíram bem o jogo, tentaram abrir espaços pelas pontas, procuraram atrair a marcação, tentaram bolas alçadas na área adversária, chutes de média e longa distância e... ...nada.

O que faltou - além de alguns titulares que desfalcaram o time - foi velocidade nos raros contra-ataques.

E tome do sibilante locutor da ESPN falar mal do time dos Reds, ler estatísticas históricas desfavoráveis ao Liverpool (aliás, este é um hábito dele), criticar o jogo em si.

Sem exagero: já estava ficando constrangido de estar assistindo ao jogo com uns amigos (e torcendo feito um louco; sou torcedor dos Reds). Cheguei a temer que um deles me dissesse: "muda de canal, Alexandre!".

Brasileiro tem que entender, que - em certas situações - entrar em campo para se defender é uma opção estratégica válida. E quando ela é bem sucedida, mesmo um adversário mais técnico não consegue jogar o seu futebol.

Claro que por sermos um país que teve Didi, Gérson, Pelé e Garrincha, entre outros inúmeros cracaços, valorizamos mais a criação.
Que bom isso! Faturamos cinco Copas do Mundo (!) - sendo que as duas últimas já com um bom poder de marcação também.

No entanto, atualmente, aqui no Brasil, o que se vê são jogadores que não sabem marcar, dar o bote na bola, tirar o espaço do adversário, e aí cometem faltas o tempo todo. Para mim, isso é que é jogo feio. Assim, como também é mais fácil fazer gol estando livre de marcação.

O "Titio" Orlando Fantoni, técnico Campeão Carioca de 1977 com o Vasco, dizia: "com um bom ataque eu ganho um jogo. Com uma boa defesa eu conquisto um campeonato".

Hoje, não tem essa de ataque e defesa. Todos atacam e defendem - o tal do fut total.

Cansei de assistir a jogo do Man Utd com o time goleando e aos 88 minutos o Cristiano Ronaldo dando chutão na sua área ajudando a defesa.

No Liverpool, o atacante Dirk Kuyt também desempenha esta função. É bem verdade que para fazer isso é necessário ter um excelente preparo físico e aqui atrasam salários e aí fica difícil cobrar preparação fisíca e afins.

Bom, hoje teve a segunda perna e o Liverpool ganhou por 3 a 1 do Unirea (Mascherano, Babel e Gerrard marcaram para os Reds). O jogo foi narrado na ESPN por outro Paulo: Soares, o "Amigão", que animou o espetáculo. Foram quatro gols, mais espaços e alguma correria.

Entretanto, neste jogo, o Liverpool apresentou sérias deficiências. O Unirea jogou procurando o ataque e inúmeras vezes levou muito perigo à meta de Pepe Reina. O time romeno só não marcou mais gols por ter sido incompetente nos arremates.

O meio-de-campo do Liverpool não marcou bem (que saudade do Xabi Alonso...), a defesa se posicionou mal, laterais reservas e improvisados não foram eficientes no apoio e jogando assim não vejo futuro para a equipe na competição.

Mas, muito provavelmente, este jogo deve ter agradado mais a quem vê o futebol pela ótica do sibilante narrador da ESPN.


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quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Evoé Momo !!! Tempo de Samba e Fantasia


Tempos atrás, se comentava que não se via qualquer manifestação carnavalesca nas ruas do Rio de Janeiro na época do Carnaval.

A maior festa popular brasileira estaria morrendo. Nada mais de blocos, confetes e serpentinas nas ruas.

Decadência nos salões: os bailes não atraíam mais ninguém.

A Cidade Maravilhosa virava quase uma Cidade Fantasma. Muita gente ia embora; pouca gente chegava.

O Carnaval carioca parecia estar resumido ao Desfile das Escolas de Samba - que aliás, com algumas exceções, começavam a ficar cada vez mais parecidas entre si.

Entretanto, em diversos estados nordestinos, a festa continuava espontânea, popular e de rua.

Tudo mudou quando a garotada carioca resolveu botar o bloco na rua: literalmente. Os Blocos de rua foram reaparecendo e tomando conta da paisagem carioca.

A alegria carnavalesca invadiu a cidade. Os saudosos sorriram satisfeitos; quem não conhecia aderiu. Evoé Momo !!! Evoé Baco !!! Que beleza...

Tempos depois, o Rio vive um engarrafamento de Blocos. A impressão que se tem é que qualquer reunião com mais de quatro pessoas em bares e botequins vai virar Bloco e ganhar a liberação da prefeitura da Cidade e depois as ruas.

E o que se vê? Um bando de gente andando com latinha de cerveja na mão acompanhando o cortejo. Sim, porque, tirando o pessoal da bateria e do carro de som, a maioria esmagadora não tem a menor ideia do que está sendo cantado.

E como o som normalmente é muito ruim, depois de um tempão de Bloco na rua, os foliões continuam a ignorar o que é entoado, berrado do carro de som.

"Mas que mau humor", dirão os meus desafetos; mas, pensem comigo: nenhuma festa popular baseada em música pode viver sem... ...música !!!
 
A indústria do entretenimento não investe em marchinhas, sambas, música de carnaval. Só rola o disco "Sambas de Enredo do Ano Tal" e pronto.

Colchetes: [é claro que existe uma galera que vive o samba doze meses ao ano. Pessoas que frequentam as Escolas de Samba e são do meio. Amam o carnaval e ainda mais o samba]

Na sua maioria, a garotada vai aos Blocos para ver e ser vista. Um tremendo climão de Baixo Gávea (point aqui do Rio).

E tome de homem musculoso sem camisa. Ainda tem mais essa: agora, os Blocos trazem muito mais homens com menos roupa do que mulheres com pouco pano - é mole?

O pior é que a grande maioria desses caras não faz outra coisa a não ser andar pra cá e pra lá (devem ficar esperando que as garotas falem com eles...).

Até os meus desafetos vão concordar comigo: não é nada agradável ficar debaixo de um Sol desumano, suando uma barbaridade, bebendo cerveja quente cobrada acima do preço normal, ouvindo sambas ou marchinhas desconhecidas num som terrível (sem chance de aprendê-las) e vendo homens fortes sem camisa.

PQP !!! Tô fora !!! E a destruição dos canteiros, jardins, entradas de prédios, homens urinando em qualquer lugar e as latas de cerveja jogadas nas calçadas ???

E a música? E quando a música que é tocada e cantada não é uma composição própria do Bloco? A bandinha ou o carro de som ataca de: "Olha a cabeleira do Zezé/Será que ele é/Será que ele é...".

PQP 2 !!! "Cabeleira do Zezé", "As Águas Vão Rolar", "Sassaricando", "Índio Quer Apito", "Mamãe Eu Quero" e afins são do tempo do meu tataravô !!!

Uma garotada que não se interessa por samba o ano inteiro; aí, quando chega o carnaval, desata a cantar as marchinhas do tatataravô ???

Cidade Maravilhosa ??? Ah, que saudade da Ghost Town...