segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Uma Tarde com Celso Pitta em Ipanema

Não me lembro se foi em 2004 ou 2005. Fui almoçar no meio de uma tarde de sábado. Na verdade, pode ter sido em um domingo. Foi no restaurante Via Farme, na Farme de Amoedo em Ipanema, aqui no Rio de Janeiro.
 
Especializado em massas, este restaurante nem existe mais. Uma pena: boa comida a um bom preço. Para a minha surpresa, o ex-prefeito de São Paulo, Celso Pitta (na foto, com a Polícia Federal) estava sentado em uma mesa próxima a minha.
 
Não esperava encontrar a abonada figura em um restaurante frequentado por mim. Só o notei, depois de ter feito o pedido. Fiquei desconcertado.
 
Como o ilibado homem público - indiciado pelos crimes de evasão de divisas, operar instituição financeira sem autorização, falsidade ideológica, fraude na Administração de Sociedade Anônima e formação de quadrilha; além de ter sido réu em treze processos, acusado de superfaturar obras e desviar verbas públicas - podia estar ali perto de mim, cercado por vários outros cariocas e não ser importunado ???
 
O que ele fez com o dinheiro público ??? O que ele fez com o dinheiro do nosso imposto ??? Será que ele iria pagar as contas de todo mundo que estava no restaurante ???


Por não acreditar nesta hipótese, comecei a falar alto: fiz uma cena. A minha comensal e namorada na época, que era repórter da Rede TV, ficou nervosa. Eu continuei o meu protesto solitário.
 
O gerente veio a minha mesa saber se estava tudo bem. Disse a ele que não, e lhe pedi uma mesa no segundo andar. Ele me disse que o segundo andar estava fechado e eu ameacei deixar o estabelecimento.


Muito solícito, o gerente se prontificou a abrir o segundo andar. Não só fez isso, como ligou o ar condicionado e mandou outro garçom nos atender, exclusivamente, no andar de cima.
 
Satisfeito com o meu ato cívico, almocei um delicioso Fettuccini aos Quatro Queijos (um dos meus dois pratos preferidos).


Depois, de sobremesa, pensei no fato de nós cariocas sermos receptivos ao extremo com todo mundo. O publicitário paulista Washington Olivetto, assim que se mudou para o Rio, disse que "No Rio, basta tomar um banho de mar, para se tornar carioca".
 
O carioca tem a fama de ser o povo mais hospitaleiro do mundo (se eu não me engano, acho que uma ONU-da-vida chegou a nos dar este título); mas, também não deveríamos exagerar e deixar que um indivíduo com uma folha corrida como essa fique à vontade por aqui.
 
Na época, saiu na imprensa que o ex-prefeito vinha ao Rio regularmente, para se encontrar com uma loura moradora do Leme. De fato, uma loura o acompanhava à mesa naquela tarde do meu ato cívico.
 
Lembrei-me de tudo isso ao ler no último sábado sobre a morte de Celso Pitta. Agora, ele não poderá fazer mais nada com o dinheiro público. Mas, certamente, alguém se beneficiará da sua "obra" em vida. A herança da ilibada figura deverá beneficiar seus dois filhos e a sua mulher.
 
Com sorte, eu terei um dinheiro para comer um Fettuccini aos Quatro Queijos no próximo fim de semana.




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sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Meu Encontro com Eric e Chanel



Ontem, véspera de feriado, assisti ao filme "À procura de Eric" do diretor inglês Ken Loach.

Apesar de torcer pelo LIVERPOOL e o filme abordar torcedores e um craque do Manchester United, uma história envolvendo futebol inglês, pub, torcida e Eric Cantona (foto) me despertou interesse.

O famoso Bonequinho de O Globo aplaudindo de pé - além da própria crítica que justificou esta cotação - me deixou ainda mais animado.

No entanto, saí do Estação Ipanema decepcionado. O filme promete futebol, Eric Cantona, comédia, drama, romance e um pouco de ação no final, mas não cumpre nada disso.

Ken Loach gosta da classe operária? Legal ! O filme retrata pessoas comuns com aparência comum nada a ver com os/as Brangelinas das telas? Ótimo!

Agora, o foda é que o filme não é engraçado, o drama é banal (e até este fato poderia dar uma boa história), o romance é patético (também poderia ser bom por isso), a ação é uma caricatura, não tem futebol (nenhuma cena com os torcedores assistindo a um jogo em um pub ou em Old Trafford - estádio do Manchester United -, por exemplo) e o Cantona apareceria jogando por mais tempo, pelo YouTube, na tela do meu notebook.

OBS: fãs dos Red Devils aparecem em um pub conversando e esperando o início de um jogo pela UEFA Champions League; mas, quando a partida começa, a cena termina em alguns segundos.

O problema de "À procura de Eric" é não ter uma história interessante.


Não há história a ser contada. Entretanto, o título é bom ("Looking for Eric" - o protagonista, que se auto-analisa, é homônimo do craque francês), o bad boy casca grossa Cantona filosofando e psicanalisando é uma ótima piada e a cena final da "Operação Cantona" é a única coisa que vale o filme (o YouTube também resolveria neste caso).

Em determinados momentos, fiquei escorregadão na poltrona; em outros, torcendo para que o filme acabasse logo (para sair do cinema).


Acho que não revelaram a verdadeira intenção do Bonequinho.

Ou então ele torce pelos Diabos Vermelhos.

CANTONA X CHANEL - FILME DE HOMEM X FILME DE "MULEZINHA"


No fim de semana passado, tentei assistir a este filme do Ken Loach lá na Gávea, mas a lotação esgotada me jogou na sala onde foi exibido "Coco antes de Chanel".


Pensei: "porra (!), eu querendo ver futebol inglês, torcida e clima de pub e vou assistir a um filme de uma costureira, ops, estilista de bacana ??? Que merda !!!".

Quebrei a cara !!! O filme da diretora Anne Fontaine é excelente !!! [e eu fui apresentado à Chanel].

O fato é que na edição deste mês da Rolling Stone (Brasil), o crítico Edu Fernandes escreveu: "O objetivo desta cinebiografia é atingir o público feminino, por causa do pioneirismo de Chanel, e pessoas envolvidas no meio fashion, pela importância histórica" (sic). [ele não diz de quem ou qual importância].


É curioso como os críticos (os "fazedores" de opinião) superestimam os "filmes de homem" e rebaixam os "filmes de mulher". Qualquer merda testosteronada com ação, porrada e esportes é bem recebida e, quase sempre, as comédias românticas são classificadas como ruins.

Existem excelentes filmes com ação, porrada e esportes, e péssimos filmes deste gênero. Assim como no caso das comédias românticas e afins. Filme bom é filme bom, e filme ruim é filme ruim. Em qualquer gênero.

"Coco antes de Chanel" é um ótimo filme para todas as pessoas que se interessem por cinema ou pela história fascinante (e muito bem contada) de uma revolucionária.

Filme videogame é filme videogame.

E videogame é melhor no PlayStation.



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