
Hoje, o visitante Liverpool venceu o Unirea da Romênia por 3 a 1 e se classificou para as oitavas de final da Liga Europa. Na primeira perna, jogando em casa, os Reds venceram por 1 a 0 e é sobre este jogo que eu quero comentar.
Esta partida foi disputada na quinta-feira passada (dia 18) e o time do capitão Steven Gerrard (foto) penou para derrotar a equipe romena. O gol só saiu aos 81 minutos. Babel cruzou da esquerda, o espanhol Pacheco escorou de cabeça e N'Gog fuzilou, também de cabeça, para o fundo das redes.
Durante a partida, o ótimo narrador Paulo Andrade (boa voz, vibração, narração em cima dos lances), da ESPN, só falou mal do time do Liverpool e do jogo.
O loucutor e lenda viva José Carlos Araújo da Rádio Globo-AM (RJ) costumava dizer, que "narrador esportivo tem que ser um animador de espetáculo".
O cara não pode ficar o tempo todo depondo contra o evento narrado por ele. Por pior que seja o evento. Caso contrário, ele me autoriza a mudar o canal ou a desligar a televisão.
E o que se viu na tal partida, caro internauta? Um típico jogo de ataque contra defesa. Jogando em casa, o time da terra do Echo and The Bunnymen buscou o gol o tempo todo e o Unirea se defendeu. Mas se defendeu com muita, muita eficiência.
Renunciando ao ataque, sem cometer faltas, marcando na bola, os jogadores do time romeno demonstraram calma durante toda a partida. Um time sereno, ninguém gritando com ninguém. Uma postura zen quase budista.
Todos marcando todos os adversários, cobrindo os espaços, deixando mais de um marcador na sobra, diminuindo o campo.
Defensores, meias, e atacantes se propuseram a não deixar o adversário jogar e fizeram isso sem deslealdade e, como já disse, com eficiência total. [ok, oquei, até os 81 minutos]
Pronto, basta isso para o brasileiro não gostar. E tome de críticas, por parte do tal locutor da ESPN, ao time do Liverpool e à partida. "O time não tem criatividade; o time parece desinteressado; o time é fraco; o jogo é ruim; bom jogo será o do próximo sábado, blá, blá, blá". E olha que o cara nem é comentarista: está ali para narrar o jogo.
Quando o torcedor está vendo um jogo do seu time, pouco importa o nível técnico da partida. Ele quer a vitória do seu clube e ponto. Depois de 81 minutos torcendo por um gol, quando ele sai o torcedor vibra, comemora e espera ansiosamente pelo apito final do árbitro.
Não havia espaço para o time do Liverpool, mas os seus jogadores até que distribuíram bem o jogo, tentaram abrir espaços pelas pontas, procuraram atrair a marcação, tentaram bolas alçadas na área adversária, chutes de média e longa distância e... ...nada.
O que faltou - além de alguns titulares que desfalcaram o time - foi velocidade nos raros contra-ataques.
E tome do sibilante locutor da ESPN falar mal do time dos Reds, ler estatísticas históricas desfavoráveis ao Liverpool (aliás, este é um hábito dele), criticar o jogo em si.
Sem exagero: já estava ficando constrangido de estar assistindo ao jogo com uns amigos (e torcendo feito um louco; sou torcedor dos Reds). Cheguei a temer que um deles me dissesse: "muda de canal, Alexandre!".
Brasileiro tem que entender, que - em certas situações - entrar em campo para se defender é uma opção estratégica válida. E quando ela é bem sucedida, mesmo um adversário mais técnico não consegue jogar o seu futebol.
Claro que por sermos um país que teve Didi, Gérson, Pelé e Garrincha, entre outros inúmeros cracaços, valorizamos mais a criação.
Que bom isso! Faturamos cinco Copas do Mundo (!) - sendo que as duas últimas já com um bom poder de marcação também.
No entanto, atualmente, aqui no Brasil, o que se vê são jogadores que não sabem marcar, dar o bote na bola, tirar o espaço do adversário, e aí cometem faltas o tempo todo. Para mim, isso é que é jogo feio. Assim, como também é mais fácil fazer gol estando livre de marcação.
O "Titio" Orlando Fantoni, técnico Campeão Carioca de 1977 com o Vasco, dizia: "com um bom ataque eu ganho um jogo. Com uma boa defesa eu conquisto um campeonato".
Hoje, não tem essa de ataque e defesa. Todos atacam e defendem - o tal do fut total.
Cansei de assistir a jogo do Man Utd com o time goleando e aos 88 minutos o Cristiano Ronaldo dando chutão na sua área ajudando a defesa.
No Liverpool, o atacante Dirk Kuyt também desempenha esta função. É bem verdade que para fazer isso é necessário ter um excelente preparo físico e aqui atrasam salários e aí fica difícil cobrar preparação fisíca e afins.
Bom, hoje teve a segunda perna e o Liverpool ganhou por 3 a 1 do Unirea (Mascherano, Babel e Gerrard marcaram para os Reds). O jogo foi narrado na ESPN por outro Paulo: Soares, o "Amigão", que animou o espetáculo. Foram quatro gols, mais espaços e alguma correria.
Entretanto, neste jogo, o Liverpool apresentou sérias deficiências. O Unirea jogou procurando o ataque e inúmeras vezes levou muito perigo à meta de Pepe Reina. O time romeno só não marcou mais gols por ter sido incompetente nos arremates.
O meio-de-campo do Liverpool não marcou bem (que saudade do Xabi Alonso...), a defesa se posicionou mal, laterais reservas e improvisados não foram eficientes no apoio e jogando assim não vejo futuro para a equipe na competição.
Mas, muito provavelmente, este jogo deve ter agradado mais a quem vê o futebol pela ótica do sibilante narrador da ESPN.
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